quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Um pouco de Saramago






Entrevista de José Saramago ao Jornal da Globo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Contraponto

(Os faróis do velho Gol iluminaram o homem parado na escura praça, quase deserta. O homem, com um capacete vermelho, aproximou-se do carro, que mesmo parado continuava com o motor ligado, e bateu no vidro fumê do lado do motorista. Uma fresta abriu-se na janela e uma mão fina, mas mal-cuidada, apareceu segurando um rolinho de dinheiro. As mãos dele contam rapidamente a quantia. A mão direita dele guarda rapidamente o rolinho no bolso direito. A mão esquerda dele retira um saquinho do bolso esquerdo e o entrega na mão esquerda dela. Ela usa a mão esquerda para fechar a fresta do vidro. As duas mãos dele se escondem nos bolsos, para fugirem do frio. Ele se vira de costas e volta para a sua moto. Ainda tinha outras encomendas a entregar.)

Dentro do Gol não estava apenas a mulher de mãos mal-cuidadas. Ah! O nome dela é Yara, caso alguém queira saber.
No banco do carona um homem olha-a, com certa pena.
-Há quanto tempo você cheira?
-Dois anos. - responde ela, já com a nota de R$ 10,00 na narina esquerda.
Ela aspira.
Ela respira.
Seus olhos viram-se para o teto do carro, com seu forro sujo pela fumaça de cigarros, e depois somem atrás das pálpebras. O coração bate.
Ele diz
-Dois anos. Nós não nos víamos há mais de dois anos, quem diria. Você mudou tanto.
-Você também
ela responde, de olhos fechados, antes de perguntar
-Você parou de cheirar?
-Sim, há mais de um ano!
-Ainda dá tempo de voltar. Sobrou um pouco. Quer?
-Não. O tempo que passei na clínica me mudou.
Ela pula pra cima dele, agarra-o pela gola da camisa azul e, cravando seus olhos de pupilas dilatadas na luz do poste que refletia nos olhos dele, diz
-Eu te amei, mesmo, sabia!?
-Eu também te amei
ele disse.
-Por que nunca demos certo?
-Por que éramos diferentes.
-Nós mudamos.
-Mas continuamos diferentes. Seremos sempre a água e o vinho. O bem e o mal. O ing e o yang. O preto e o branco.
Ela crava as unhas na gola dele
-Seremos sempre homem e mulher. Não existe bem sem mal! Nem preto sem branco! Nem ing sem yang!
-Nem Chitãozinho sem Xororó
ele debocha.
Ela ri
-Eu te amei.
-Eu também.
ele a faz soltar sua gola.

(O nome dele é Ignácio. Fora o melhor amigo de Yara por muito tempo. Cresceram juntos. Descobriram o sexo juntos. Descobriram um ao outro e a si mesmos. Juntos. O clichê dos opostos que se atraem. Não tinham nada a ver um com o outro. Nada.)

Ignácio começou a falar calmamente
-Sabe. Eu sempre quis ser como você. Eu achava nas drogas uma maneira de me rebelar, de ir contra meus pais, contra aquela maldita escola e aquelas professoras verruguentas, mas no fundo, lá no fundo, mesmo, o que eu sempre quis foi me encaixar em todas as regras, como você. Você era linda, inteligente, popular. Poderia ser a estrela de qualquer filme bobalhão adolescente. Você era perfeita. Sabia tudo sobre todos os livros, todos os músicos, política, economia, sociologia. Eu era apenas um hippie, meio gótico, meio punk. Qualquer novidade de visual me atraia, mas por dentro eu sabia que só era revoltado com o mundo por não saber como me encaixar a ele. Experimentava todas as drogas, andava com gente que sabia que nunca iria me fazer bem. Meus pais, coitados, sofreram tanto por minha culpa. Sabe, Yara, quando meus velhos nos viam juntos, ficavam felizes. Você era a única coisa que deixava eles felizes. Eles achavam que você iria me mudar, "entrar nos trilhos". Eles estavam certos. Foi você que me fez mudar. Se hoje sou considerado um exemplo na clínica de reabilitação, foi por sua causa. Eu me agarrava nas suas lembranças, em todas as vezes em que eu te oferecia um baseado e você recusava. Você era perfeita. Eu mudei. Por você.

Yara começou a falar, não tão calma quanto ele fora
-Já eu não aguentava a felicidade, a perfeição. Eu via tudo e percebia que meu mundo era cor de rosa, minha família perfeita, minhas notas brilhantes. Mas não era aquilo que eu queria. A segurança sempre me amedrontou. Me deixava insegura. Você era diferente. Era loucão, não estava nem aí pra nada. Eu queria ser desligava dessa merda de mundo. Sabe aquela sensação de estar desperdiçando sua vida? De estar dando atenção demais a coisas que não levam a nada? As músicas não me faziam felizes, nem os livros, nem porra nenhuma. Só você me fazia feliz. Só com você eu me sentia completa. Meus pais, coitados, sempre foram felizes. A única sombra de preocupação que passava pela cabeça deles era se um dia eu resolvesse transar antes de ir a uma ginecologista. Lembra da nossa primeira vez? Eu só fodi com você porque minha mãe disse "Vai filha, faz o que quiser", pois eu tava tomando pílula que a ginecologista me recomendou na semana anterior. Até pra sentir prazer eu necessitei de permissão. Quando você foi embora, me senti vazia. Completa de vazio. Solidão dentro dos olhos. O mundo na garganta, mas trancado lá. Depois que você foi embora... Eu mudei. Por você.

(Não preciso dizer que os dois sabiam que nunca dariam certo)

Ele disse
-Vou descer e chamar um táxi.
-Me leva com você!
ela implorou.
-Eu vou voltar para o lugar de onde eu não deveria ter voltado.
-Você vai embora?
-Sim.
-Eu poderia completar você.
-Nós já nos completamos.
-Então por que não podemos ficar juntos?
-Porque somos diferentes. Sempre fomos. Podemos mudar, mas sempre seremos diferentes.
-Seria chato se fôssemos iguais.
-As coisas que dão certo são chatas.
ele concluiu.

(Ele desceu do Gol, pegou o celular e discou o número do táxi. Ela ficou dentro do carro, o observando parado na esquina, até o outro carro passar por ali e levá-lo embora. Em qualquer despedida ela sempre tinha a sensação de que era para sempre...)

Yara pegou o celular, procurou um número na agenda, com certa dificuldade, pois chorava convulsivamente, engasgando, engolindo o pranto, falando coisas sem sentido. Quando a pessoa do outro lado da linha atendeu ela gritou
-Mãe. Por favor. Eu preciso de ajuda. Eu vou parar, eu juro!

Ignácio entrou no táxi, cravou os cotovelos nas pernas e escorou a cabeça nas palmas das mãos.
-Para onde, senhor
perguntou o taxista.
-Para a Vila Santinho.
-Aquele lugar é barra pesada. Eu só posso deixar você na entrada da vila. Quer ir pra lá mesmo assim?
-Sim, eu quero.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um Dedo de Prosa

Pra mim a morte do Dr. Almeida foi um infortúnio.
Na flor dos meus 85 anos não pensava em sair à cata de um novo urologista. Ora! Você tem que ter o mínimo de confiança em uma pessoa para deixá-la enfiar o dedo em seus lugares mais secretos, e eu não estava disposto a começar um novo relacionamento.
Mas Marta, a pobre da minha velha, queria que eu morresse de uma maneira mais digna que de câncer de próstata. Imagine só a prima Aurélia perguntando
-Mas de que morreu o nosso querido Jorge?
e minha mulher tendo que responder
-De câncer de próstata, coitado. O cu dele foi apodrecendo... apodrecendo...
Logo, minha velha deu um jeito de arrumar um novo urologista para mim. O acaso fez com que a neta da Dona Anita tivesse acabado de montar um consultório e precisasse de pacientes com urgência. Lá foi minha bondosa velha fazer o bem pro bolso da moçoila e pras minhas ceroulas, marcando a consulta sem me consultar. E se eu precisasse sair pra jogar com o Teixeira...? Bem, mas eu não tinha que sair pra jogar com o Teixeira, pro meu desânimo.
Sentado na pequena sala de espera do consultório decorada com exagero(na minha modesta opinião, claro!) Marta me sussurrou ao ouvido, enquanto apontava para uma flor pateticamente murcha num canto
-Fala com ela sobre aquele probleminha...
Enfim apareceu a médica na porta, com o rosto escondido atrás de uma folha de papel.
-Seu Jorge Castilho, por favor.
Me apoiei na bengala (pois ao menos essa era bem rígida) e com certa dificuldade me levantei e caminhei para sala de atendimento. Cheguei reclamando da demora, claro, aquela medicazinha tinha que perceber que estava tratando com um senhor de idade compromissado, que não tinha 8 minutos e 35 segundos para desperdiçar parado numa sala de espera, visto que cada minuto era valioso, na minha idade! Afinal eu pagava ela pra... Só então eu parei pra analisar a doutora. Deveria ter uns 25 anos, muito bem apessoada, ancas largas. seios de vaca leiteira. Me lembrava minha velha, quando a gente casou.
Ela pediu desculpas de maneira desatenta e largou a piadinha mais desconfortável possível para um homem que está prestes a ficar na posição em que Napoleão perdeu a guerra.
-Bem, vamos lá, Seu Jorge, e não se preocupe. Com uma médica mulher o senhor pode ter a confiança que é só o dedo que irá ser enfiado, não é!?
Qualquer um ficaria chocado, mas de certa forma aquele ar descontraído que se implantou na sala me relaxou. Relaxou tanto que eu desvesti a roupa rindo (interiormente, claro, pois não muito sou de mostrar os dentes), enquanto ela colocava as luvas.
Fiquei naquela posição desconfortável, que por algum motivo me lembrava minha infância no sítio do meu tio, e senti aquele dedo fino entrando lentamente, tímido, como se pedisse desculpas por adentrar em lugar tão privado. Não doeu, esse foi o fato. Talvez pelo fato de que perto do dedo do falecido Dr. Almeida, o dedo da doutora gostosinha foi como uma merdinha que com medo do mundo resolvesse retornar para o aconchego, dentro de mim.
Foi rápido até demais. Tanto que me deu vontade de pedir pra ela verificar meu eu-interior novamente, uma segunda opinião, talvez.
Porém o que aconteceu naquele momento me surpreendeu. Tinha até esquecido como era aquilo! Minha velha serpente dava tímidos sinais de vida. Agora não tão tímidos. Viva! Minha serpente está viva, estampem na capa dos jornais!
Vesti as calças rapidamente, como se a médica que acabou de me estuprar com meu consentimento fosse ficar extremamente chocada ao ver meu modesto instrumento de guerra.
Ela tirou as luvas (meu deus, como ela ousa usar as mãos para comer, depois de uma consulta!?) e foi logo dizendo que eu era mais saudável que ela, e que ela ainda ia me atender por muitos e muitos anos, se isso dependesse só da minha próstata. Depois que eu depositei meu maço de cigarros na mesa dela, enquanto procurava a carteira, ela começou um longo discurso sobre eu largar o fumo. Passamos pelo velho protocolo, paguei-a e saí de lá mais rápido do que entrei.
Marta me esperava ainda na sala de consultas. A médica que me acompanhou lhe disse
-Dona Marta, a senhora vai ter que aguentar esse velho ranzinza por muito tempo, ainda.
Minha velha sorriu, me deu o braço e esperou nos afastarmos uma uma meia quadra do consultório para perguntar
-Falou pra ela sobre o nosso probleminha? Ela receitou algum comprimidinho!?
-Não, Marta. Nada de comprimidos! Hoje vamos tentar algo novo.
sussurrei.


Texto escrito para acompanhar a onda de posts sujos nos blogs.

domingo, 9 de novembro de 2008

Sobre Religião e a Falta dela

Hoje fui à tradicional Romaria de Nossa Senhora Medianeira e voltei triste, só não sei dizer se com o mundo ou comigo.
Vou começar a minha divagação pelo princípio. Minha família é daquelas que é um tanto religiosa, tem devoção "à Santinha" e nos anos que pode, vem para a procissão. Logo, desde cedo fui arrastado pelos meus paispara o meio da multidão devota. Era apenas mais um inocente que não tem noção do que está fazendo no meio daquela bagunça.
Fui crescendo, porém, e comecei a ter um olhar um tanto mais crítico sobre a situação, a acompanhar minha família cada vez mais contrariado, até que chegou hoje, momento em que o que vi me preocupou tanto que eu tive que vir aqui desabafar.
Minha fé se desvaneceu com o tempo, hoje me declaro agnóstico (para horror dos meus pais e da minha avó), mas já fui, sim, muito religioso. Quando tinha lá meus doze anos pensei até em ser padre, talvez motivado pelos livros que lia, de José de Alencar ou de Aluísio de Azevedo, em que os padres eram pessoas influentes, cultas e, algumas vezes, até os vilões das histórias (desde cedo tive uma queda pelos personagens maus).Mas minha vocação pra religião foi se extinguindo, até sumir quase que completamente, então quando fui intimado a acompanhar a família em mais um martírio coletivo, bati pé e disse que não ia, principalmente porque hoje fez 33 graus em Santa Maria, e consigo pensar em várias maneiras mais divertidas e/ou produtivas de se conseguir um câncer de pele. Mas nessa vez, em especial, tínhamos uma companhia, minha tia idosa com quem morei por três anos, logo, mais uma vez não tive como escapar.
O que vi lá me deixou nesse estado nostálgico em que me encontro agora.
Filas, filas e mais filas, não desmentindo o que o padre chamou o tempo todo de "rebanho". A maior delas para passar alguns segundos em frente à imagem da Santa, oxalá tocá-la, se a altura do fiel permitir... olhares suplicantes, lágrimas, mimos para a imagem! Seria bem emocionante, não fosse o fato do segurança particular da santa empurrar senhoras idosas, embora com palavras simpáticas ("Vamos mais rápido, vovó!?") que passem mais de cinco segundos admirando-a. Ora, minhas caras matronas, a Santa tem lá seus compromissos no Altíssimo, não se esqueçam!
Tudo isso com o padre falando de pecadores, anjos caídos e castigo, ao fundo, intercalando os discursos caóticos com musiquinhas simpáticas para a multidão não se assustar tanto. De repente uma música em latim, que vi todos (os que tinham o panfletinho) cantarem como se cantassem uma musiquinha de ninar qualquer, como se entendessem cada som que saíssem de suas bocas.
O padre pára os discursos amedrontadores por alguns instantes para apresentar seus pupilos, os seminaristas do coro. Estranho olhar para aqueles caras de olhar tímido, tão alheios do mundo, preferindo uma vida de celibato (pelo menos oficialmente), para se entregar à adoração de Deus. Que decepção eles teriam (agora vou falar algo totalmente ilógico:) se depois de morrerem percebessem que não existe uma outra vida, muito menos eterna.
Então chega ao ápice da primeira missa. O padre levanta uma hóstia gigante, para que todos da Basílica vejam, levanta também um cálice dourado e fala sobre o corpo e o sangue de Cristo. Sempre tive medo desse canibalismo metafórico que é a hóstia. Desde criança nunca entendi o porquê de para se estar com Cristo, ter que comê-lo!
Depois da missa na Basílica a missa campal, tão esperada. Milhares de pessoas lutando por um espaço na sombra para escutar padres falando, falando e falando sem parar. Aliás... escutar era para privilegiados, pois o som só alcançava até metade da multidão, já que as caixas do fundo apresentaram defeitos, para variar.
Não sei ao certo o que senti por aquelas pessoas. Uma multidão suada, com cara de cansada, carregando pulseirinhas compradas no "três por um real" de moleques que não pareciam ter fé, ou por mulheres com pencas de filhos, nos quais batiam por qualquer motivo, talvez nem percebendo que com isso afastavam a "freguesia", que obviamente prefere comprar o que quer que seja de deficientes físicos do que de uma mulher que bate nos filhos!
A miscigenação no Brasil é linda! Pessoas de todas as cores, tamanhos, formatos e texturas juntas numa única reza (A maioria, claro, pois obviamente eu não era o único que estava alheio à comoção causada pela fé!)
E o banheiro! Deplorável! Imundo, fedorento, desrespeitoso até às narinas mais insensíveis, totalmente o oposto da pureza de corpo e de espírito pregado pelo padre. Ah! Padre esse que no meio do discurso fervorosíssimo (e louvável, admito!) sobre doação de órgãos disse que "ao você doar os órgãos de seus entes queridos salva no mínimo oito vidas!" Fiquei realmente chocado, pois ou o padre falou uma grande besteira, ou eu que estou desatualizado nas maravilhas da medicina e agora já se é possível doar as toncilas, a bile, a língua, os órgãos reprodutivos e sabe-se lá mais o quê!
Ai, me prendi a pequenas coisas da procissão e não falei, enfim, o que me fez mais triste. A crença! As pessoas de lá acreditavam no que estavam fazendo, mas eu... eu não acreditava nem em mim!
Será que eu deveria aprender com essa multidão sofrida e esperançosa de uma salvação celestial para seus problemas mundanos? Talvez isso torne as coisas mais fáceis... Mas de onde me vem essa descrença em todas essas práticas que me parecem tão arcaicas?
Fiquei triste, de verdade. Só não sei se com eles, ou comigo


Foto by: Panka

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Seis Graus de Separação

Como a falta de criatividade se aliou à falta de tempo para impedir que eu me concentrasse a criar um bom texto com subjetividades, duplas interpretações ou confidências que a ninguém interessa, resolvi escrever um pouco sobre algumas coisas que eu acredito.
Acredito na raça humana e em uma possível salvação pras mazelas do mundo. Acredito que existem, sim, políticos honestos, e que a Sandy continua virgem, mesmo depois do casamento. Acredito em duendes, pois só a existência deles pode explicar os desaparecimentos de nossos objetos, mas não acredito mais em Papai Noel, cegonha e Coelhinho da Páscoa, e fico até meio deprimido ao ver que as crianças, como meu irmão, deixaram de acreditar neles bem mais cedo que eu.
Mas sobretudo acredito numa teoria matemática-social chama Teoria dos Seis Graus de Separação. Alguém deve ter pensado: "Puts! Lá vem ele com mais uma teoria matemática chata pra postar no blog", mas acalmem-se, garanto que essa é bem mais interessante de ser lida.
A teoria surgiu em estudos científicos na Universidade de Columbia e foi publicada na Revista Science, e a partir daí virou mote para peças de teatro, filmes, séries (a principal delas homônima à teoria, produzida por JJ. Abrams, criador de Lost, que também se utiliza dessa teoria), jogos onlines e redes de relacionamento (incluindo o Orkut).
Mas enfim, sobre o que é esse estudo? Bem, ele tenta explicar o que já é de conhecimento público: O mundo é pequeno!
Pra provar isso fizeram o seguinte: estipularam pessoas entre as quais um inspetor de arquivos na Estônia, um consultor de tecnologia na Índia, um policial na Austrália e um veterinário do exército norueguês e entregaram cartas destinadas a elas a outras pessoas, completamente distantes geografica e culturalmente. Assim a pessoa que começava com a carta nas mãos enviava ela a um amigo que achava que poderia ser próximo da determinada pessoa, que enviava para outro amigo, mais próximo, e para outro e outro, até que a carta chegasse ao destino esperado. O resultado foi inesperado, pois foi necessário que a carta passasse por, em média, 6 pessoas, desde o início ao destino.
Daí o nome da teoria: Seis Graus de Separação. Não é difícil acreditar quando se usa a matemática para comprová-la. Digamos que você tenha dez amigos (esse é um número baixo estipulado pelos estudiosos americanos, que talvez não tenham um círculo social tão grande), e cada amigo seu tenha mais dez amigos, e cada um desses amigos de amigos tenham mais dez. Quando chegarmos aos 6º grau, teremos 10 elevado na 6ª potência, o que daria um milhão de "amigos". Agora se formos adaptar às nossas realidades, e adicionando a essas pessoas o que se chamam de hubs (pessoas com um número muito grande contatos, como os próprios jornalistas) então nossa rede de contatos é infinitamente maior, logo, é bem possível que a teoria seja realmente verdade. Eu pelo menos acredito!
Isso explicaria, segundo os estudiosos, fenômenos como a moda, comportamentos de mercado e epidemias. Não é realmente interessante?

Eu me interessei por essa teoria ao ver como entre nós mesmos, colegas, descobrimos o quanto estivemos próximos, até mesmo por um grau de separação, antes mesmos de nos conhecer:
*Eu ouvia falar bem do Bibs quase todos os dias, através de uma senhora que trabalha no meu antigo colégio e que é quase uma vó adotiva para ele. Confesso que fazia uma imagem completamente diferente dele e no entanto hoje estamos aqui, até morando juntos!
*Eu conheço um tio-avô (?) da Liana, lá de Dom Pedrito, e além disso meu tio lecionou por muito tempo na UfPel, logo devem haver mais ligações das quais não sabemos.
*Lara e Gian, embora não se conhecessem, tinham muitos amigos em comum!
*Caren e Gian tinham um amigo em comum antes de se tornarem colegas.
*A tia Deise, mãe do João (sim, até o João que é de outro estado tinha algum tipo de ligação, vejam) morou em Cachoeira, logo deve ter conhecidos em comuns com Ananda e Panka!
*Lara e Bibs descobriram anteontem que tinham dois conhecidos em comum, também.

E há também dois casos de contato direto!
*Panka e Ananda se conheciam de Cachoeira, embora talvez não se gostassem muito.
*Lara e Benaduce também se conheciam, daqui de Santa Maria.

E essas são apenas as ligações que descobrimos sem nenhuma pesquisa aprofundada.
A mim, pelo menos, essa teoria é totalmente válida e correta. Hoje mesmo descobri, sem querer, que tenho ligações de primeiro ou segundo grau com Suzane von Richthofen, Ana Carolina Jatobá, Alexandre Nardoni e Lindemberg Alves. Dá medo, não!?
Mas nem tudo são lástimas!
Certa vez, também despropositalmente, descobri que eu e duas pessoas que depois se tornaram grandes amigas visitamos no mesmo 1º de janeiro a Cascata do Caracol, e descemos as escadas que davam para o fim da queda d'água praticamente na mesma hora, ou seja, antes de nos conhecermos já havíamos nos cruzado, sem que um tivesse consciência do outro, em uma escada enferrujada que dava para um lugar tão bonito. É quase poético, não!?
E tem outra, vejam só! Já descobri também que tenho duas ligações de primeiro grau com Sílvio Santos! Má oe! Quem quer dinheiro?
Enfim, me alonguei demais, mas eu queria apenas compartilhar essa minha maluquice de ficar sempre procurando ligações infinitas entre as pessoas.
Quem sabe tendo conhecimento dessa teoria adquiramos, finalmente, a consciência de que fazemos parte do mundo, de algo maior que alguns chamam de Deus e eu chamo de Destino. E que nós, caros colegas, descubramos juntos até onde esse Destino vai nos levar. Espero que "ao infinito e além", e sempre acompanhado de vocês!

Texto postado no Blog Primeiro Ponto

P.S.: Eu menti! Não acreditava que a Sandy era virgem nem antes do casamento, quanto mais agora! ahahah

sábado, 18 de outubro de 2008

Sobre o Gosto da Teia

Era muito sedutora.
Quieta, silenciosa, mas nem sempre. Quando necessário os membros se moviam rápido, frenéticos, hábeis.
Os olhos fitavam a tudo e a todos, e não à toa!
Sua cor não era habitual, era diferente de todas as demais, era única!
Seria uma bela amante, não fosse o fato de ter oito patas.
Quanto cuidado deveria ser desprendido a um ser tão delicado? E aquele medo de que o menor ato pudesse ferí-la mortalmente.
Delicadeza um tanto quanto relativa. Ela mostrou-se mais forte que ele, afinal, agora era ele que estava preso.
Aproximara-se demais para conferir o desenho das teias, e quando deu por si estava totalmente enredado. Quanto mais se debatia contra o seu destino, mais preso ficava.
Ele viu ela se aproximando lentamente, e agora parecia bem maior do que a princípio. Ela trabalhando sem preocupação, como se a cabeça estivesse à muitas teias dali. As patas finas mas fortes indo em todas as direções, tecendo, tecendo.
A teia entrando na boca dele. E que gosto! Parecia doce, mas diferente de tudo que ele já provara. Era ótimo por ser único.
Ela foi rápida, porém. Totalmente envolto em um casulo, ele já estava conformado com seu destino. Ficar ali, imóvel, até que ela quisesse, até que a fome a fizesse devorá-lo, ou então nada.
O nada, simplesmente.
Ele sem ações, sem atos, só sensações. Mais nenhum grito, mais nenhum movimento, a não ser pra se livrar daquele desconforto habitual de quem está suspenso.
Mas aquele gosto... ah, aquele gosto valia qualquer sacrifício.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

E de repente esse bucolismo

E de repente esse bucolismo.
E de repente esse medo da solidão, da ausência da parte de si mesmo que ficou no outro.
E de repente essa sensação de ser incompleto, mas não apenas no agora, e sim no antes e no depois.
E esse nó na garganta que tanto me irrita? Esse grito que cala por vergonha, mas que não pode impedir que esses longos dedos escrevam essas palavras.
Hoje era pra ser um dia cinzento, mas teimamos em colorí-lo demais. Talvez por castigo agora vejo tudo em preto-e-branco.
Essa auto-piedade me enoja, mas eu não quero ser altruísta agora! Não agora! Quero o egoísmo mais venenoso, quero esquecer as mazelas do mundo e pensar só em mim, em como estou sendo estúpido. Estou irritado pois eu poderia ir dormir sem escrever tudo isso no blog, mas essa necessidade de chamar atenção se torna mais forte que meu senso de ridículo.
Me vejo no futuro, recordando esse momento como se fosse uma foto envelhecida, e rindo com escárnio desse sofrimento infantil. Serei um velho sarcástico e não tenho certeza se é isso que eu quero.
Mas enfim me sinto livre. O nó da garganta se desfez.
Agatha Christie, uma de minhas escritoras favoritas, certa vez disse: "Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional." É, Agatha... você tem razão.
O viver é uma experiência inesquecível.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre a Consciência de Ser

Ela está sozinha nesta noite, nenhum som perturba a calmaria da sua sombria sala de estar. O abajur de canto lança uma luz avermelhada sobre o seu rosto, assim como sobre um prato de frutas abandonado na mesinha de centro. De repente ela perdera a fome.
Está ali, sentada, na doce contemplação de ver o rápido escurecimento da maçã picada, enquanto sua mente divaga sobre coisas que jamais seria possível explicar aqui em palavras.
De repente, como se uma força imensa a tivesse dominado, ela levanta do sofá, desliga o abajur e corre para o quarto.
Abre as gavetas com força, tira as primeiras peças íntimas que suas mãos encontram (uma calcinha preta e um sutiã rosado) e caminha de pés descalços até o banheiro.
Liga as luzes, despe-se da roupa que carregara o dia inteiro, deixando-a cair sob seus pés e olha-se no espelho. Pergunta-se se ainda seria bela o suficiente. Seu rosto esboça um sorriso fraco, mostrando um olhar doce e submisso perante seu reflexo.
Então ela tem daqueles impulsos que são difíceis de explicar. Apaga as luzes do banheiro e assim, no escuro, mesmo, liga o chuveiro. Há apenas uma fonte de claridade, vinda da pequena janela de vidro jateado, no lado oposto da peça. Assim ela começa o banho. Vê o vapor subindo lentamente, envolvendo seu corpo como uma seda branca, um véu transparente.
O sabonete escorrega em seu corpo com uma delicadeza que ela nunca sentira antes. A água escorre em seu rosto com a velocidade das lágrimas mais desesperadas.
A sensibilidade aflora em seu corpo. Sobe-lhe um nós na garganta, uma vontade de chorar e de gritar, e só não se atreve a tal porque sabe o quanto isso seria despropositado. Que motivo teria?
Sai do banho e passa a toalha áspera pelo corpo, veste a calcinha, cuidando para não deixa nenhum pelo pubiano aparecendo, e de repente sente-se tola. Sente como se estivesse vestindo-se para o amante mais esperado de sua vida, mas... ela ocupará a cama sozinha essa noite, assim como vinha fazendo nos últimos dez anos de sua vida.
Pega o secador em um armário e começa a secar seus cabelos ruivos. Os olhos fixam-se na imagem embaçada do espelho. Ali refletida está sua alma: sem definição, sem contorno, sem forma e conteúdo. Apenas algo que existe sem ter um porquê.
Sente as lágrimas vindo-lhe, enfim. A solidão lota o recinto, lota seu corpo. Chorando, escova os dentes. Engasga-se com o creme dental e acaba a escovação antes de sentir sua boca realmente limpa.
Ainda de pés descalços vai para seu quarto. Analisa-se no espelho que está em um canto, meio que escondido por um cabideiro, como se tivesse vergonha de se mostrar para sua dona, vergonha de refletir uma existência tão triste. Olha-se e nota o quanto na verdade foi descuidada na escolha da roupa de suas núpcias solitárias: "Uma peça de cada cor!?"
Vai até a gaveta e revira tudo, até achar o sutiã que combinava com a calcinha. Tira o que vestia e antes de colocar o outro, olha-se novamente no espelho. Hun, havia o exame de mamas, vira na televisão que era necessário fazê-lo sempre. Começa, então, na frente do espelho, a apalpar-se. Nada no sei esquerdo. Continua a apalpar-se. Nada no direito, felizmente. Mesmo assim, continua a tocar-se. Vê que no rápido exame seu corpo reagira, sua pele arrepiara.
Ali, de seios descobertos em frente ao espelho, prossegue a olhar-se como fizera rapidamente no banheiro. Sim, definitivamente ainda era bonita. Seus olhos castanhos ainda emitiam um brilho de vivacidade e de malícia, sua boca ainda arqueava-se ainda em sorrisos provocadores. Seu corpo não continuava como há quinze anos atrás, é verdade, ficara um pouco mais gorda, mas continuava nas proporções ideais para uma mulher de sua idade.
Sente então uma necessidade de ficar nua completamente e sem pudor. Se em quarenta e cinco anos não aprendera a conviver com seu corpo e não entendia sua alma, como ainda vivia? Precisa ficar nua, e fica. Tira a calcinha e atira-a na maçaneta da porta (em qualquer outro dia ela teria se censurado por esse ato pouco higiênico).
Lembra-se do falecido marido, único homem a quem se entregara, mas que já não estava mais ali para aquecê-la em noites frias. Eles haviam se envolvido em um acidente de carro, dez anos atrás. Ela, de cinto, sofrera apenas um corte no joelho, onde ficou uma cicatriz em forma de sorriso, que ela fazia tudo para esconder. Ele, sem cinto, morrera na hora. Desde então apenas ela dorme na confortável cama de casal.
Deita-se, deixando seu corpo escorregar pela colcha colorida. Mais uma recordação lhe ocorre, mas essa tão dolorida que ela fez de tudo para esquecer novamente.
Sua mão esquerda começa a deslizar pelo corpo. Barriga, seios, pescoço, nuca. A outra estaciona entre suas pernas. Seus dedos com unhas sem pintura começam a fazer movimentos tímidos, calmos. Há muito tempo não fazia aquilo.
Sente que ainda vivia, que enfim não morrera no acidente e nem de tristeza e solidão.
Os movimentos da mão direita ficam um pouco mais rápidos e ela sente a auréola de seus seios perceberem o estímulo.
Neste momento ela faz aquilo por dois sentimentos antagônicos: a vontade de satisfazer seu corpo e a necessidade de se humilhar, pois sim, ela faz isso em frente ao espelho apenas para ver seu rosto contorcido de prazer chorar. Chorar de saudade do marido e de vergonha, como se ele ali estivesse a olhando de forma acusadora. Sem entender a si mesma, ela resolve humilhar seus fantasmas, também. A culpa era dele se ela estava sozinha. Ele a abandonou e ela precisa prová-lo que não sentia mais sua falta.
Masturba-se agora com mais velocidade, com mais força, violência, até. Quer inflingir em seu corpo toda a sua angústia e desespero.
É nesse momento que a porta se abre. Ela vê, espantada, o rosto de seu filho, de dezessete anos ,surgir pela fresta da porta.
-Mãe, eu cheguei - ele diz, milésimo antes de olhar para dentro do quarto.
Os olhos dele fixam-se, espantados, na estranha e inesperada figura que se contorcia na cama. Não entende de primeiro o que se passa, mas assim que seu cérebro processa o estranho espetáculo, um soluço escapa-lhe pela garganta. Ele dá um passo para trás e fecha a porta com uma batida forte. Caminha a passos largos para seu quarto e, com mais força ainda, bate mais essa porta.
Ela fica ali, estática na cama. As pernas ainda levantadas, a mão ainda sobre suas intimidades. Era como se qualquer movimento fosse fazer com que ela percebesse que o que acabara de se passar tinha sido real.
Mas assim que baixa as pernas e cobre-se instintivamente, notou que sua atitude e seus sentimentos não eram o que esperava. Ela não sente vergonha. Sente raiva. O que ela vira de relance nos olhos de seu filho não seria a mesma repreensão que ela imaginava ver nos olhos do fantasma de seu marido? Que culpa tinha ela de ainda sentir desejo, de ainda estar viva?
Desde a morte de seu marido, sentiu-se consciente do que era. Consciente de sua existência.
Então faz algo que não se julgava capaz. Descobre-se novamente e recomeça a masturbar-se. Exagera em seu prazer, emite gritos que não se julgava mais capaz de dar, com a cruel esperança que seu filho escutasse.
Agora ele tinha que entender que ela não era apenas aquela que lhe sustentava e cuidava. Ela tinha também que cuidar de si.
Os movimentos mais rápidos, os gemidos mais altos.
É essa a maneira que ela tem de mostrar ao mundo que sim, ela iria mudar. Deixaria seu altruísmo de lado. Nesse momento é o mais egoísta que pode. Não pensa no filho, no que ele sente nesse momento. Ela quer o direito de suspirar de êxtase, e não só de cansaço.
A partir do próximo fim de semana iria começar a sair, ir em festas com suas amigas, aproveitar o resto de beleza que ainda lhe restava. Mudaria. Era necessário.
O último grito foi seguido por um silêncio que a assustou. Cobre-se novamente, sentindo o rubor subindo suas faces e confundindo-se com seus cabelos ruivos. O que fizera, afinal? O que deveria fazer no outro dia? Não queria essas respostas.
Talvez elas nem existissem.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sobre o Amargor Matutino

“Mas, hey, mãe, alguma coisa ficou pra trás...

Antigamente eu sabia exatamente o que fazer”


Por mais agradável que tenha sido a noite, a manhã é sempre amarga. Essa é uma constatação bem óbvia, na verdade. É sempre assim. Você acorda, às vezes de bom humor, às vezes não, olha-se no espelho, vê seu rosto desconfigurado pelo sono e, dependendo do seu humor, sorri. Escova os dentes, afinal tem que prezar pelo sorriso sempre belo, por mais forçado que ele possa ser, e lava o rosto. Então vem o amargor. Por mais doce que seja o café, o suco, a fruta, sempre sentirá o amargo causado pela doçura do creme dental, na primeira mordida, no primeiro gole. Não deveria ser assim, mas é. O gosto bom do novo dia dura tão pouco. Assim é a vida. Iludimo-nos por uma doçura tênue e esquecemos que o amargor logo virá. Sempre vem! Mas nessas manhãs é bom saber que logo nosso paladar voltará ao normal. Os gostos bons acabarão se sobressaindo! Afinal talvez os amargores da vida sejam necessários pra que possamos continuar sorrindo.


“Mas, hey, mãe, por mais que a gente cresça

há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender.”